05 outubro 2010

Como seria...

Romeu,

As noites com você são sempre agitadas, cheias de pequenas sonecas, o que faz com que a mamãe tenha um milhão de sonhos e se lembre da maioria. ah, o melhor é que de um jeito ou de outro, você sempre está presente nesses sonhos!

Essa noite, além de sonhar que te colocava para dormir dentro da máquina de lavar, sonhei também com seu avô Roger, ou quem sabe o vô Neguim, ou vô Nego Roger, ou até mesmo o Vovô Pirara, sei lá como seria o jeito que você iria chamá-lo, é, porque se tem uma coisa que me chateia nessa vida são esses "como seria" se esse avô estivesse entre nós, uma coisa seu padrinho acertou: ele te chamaria de Raimundinho, nunca de Romeu.

Imagino como seria a partir de como ele foi com o Ian, que pôde curtí-lo por um ano, era um avô babão como normalmente são os avôs, no entanto era também muito perigoso deixá-los sozinhos! Como disse a Diana (sua avó torta), era preciso vigiar o meu pai vigiando o Ian! O mais legal era ver como existia uma paixão recíproca entre eles, sendo que até hoje, que o Ian tem dois anos, a gente pergunta como dorme o vovô e ele então ronca, imitando seu avô!

Os dois riam muito juntos, o seu vô perguntava para o Bastiãozinho (Ian) o que a vovó é? No que o neto respondia fazendo o sinal de doida e morrendo de rir!

Meu pai teve a sorte de saber o que é ter um neto, e foi um neto apaixonado, como eu tenho certeza que você seria também... mas mesmo assim, um vovô perigoso, que pegava o neto com um cigarro na boca, colocava em cima do cachorro (imundo), e que ao saber que ele já estava começando a sentar o deixou sentado e saiu de perto para desespero da mãe! É, sem dúvida eu ia ficar aflita, mas mesmo antes dele morrer e eu sequer engravidar, já falava com o seu pai que quando tivéssemos filho, íamos deixá-lo com meu pai, que é para ficar esperto!

É, porque minha infância sempre foi divertida mas bem arriscada, pois seu avô criava a gente desse jeito doido, nos levava para pescar mas eram viagens terríveis em que acampávamos em praias sem nenhum rancho, um sol de rachar, o seu avô bêbado assando um peixe sem nenhum tempero, assim como o arroz (ele não sentia cheiros e nem muito gosto por causa de um acidente de moto), e contra os mosquitos passávamos óleo de cozinha (só óleo, sem qualquer protetor solar).

Também me lembro de passeios de moto, em que eu ia no tanque da Ténéré, e seus tios atrás (é, sem capacete), lembro de viajar no Landau para a Bahia, e viver um mês sem ter que tomar banho, com conta na sorveteria do seu Laci, que depois foi cancelada tamanho o rombo que causamos, de visitar seu avô na prisão da Bahia e ganhar uma casinha toda feita de palito de picolé do colega de cela, voltar dessa viagem sem nenhuma roupa limpa e sem nenhum sapato, toda amarrotada no avião... lembro dele ver uma poça de lama e jogar a moto com todos nós a bordo... lembro da brincadeira de acertar latinhas com arma de verdade, e eu era tão pequena que tinha que ser segurada porque a pressão ao atirar é forte e eu poderia cair para trás se seu avô não ficasse atrás de mim... lembro de andar a cavalo com ele, até o dia em que ele me subiu primeiro e bateu na bunda da égua para que eu aprendesse a andar sozinha... lembro do dia em que ele encheu o saco das músicas que eu ouvia e jogou todas as minhas fitas no Rio, ah, e mesmo gostando muito do tal Rio, ele fazia questão de jogar as latinhas de cerveja na água gritando NATIVA (um grupo ecológico, que realizava campanhas de preservação do Rio Araguaia, do qual inclusive sua avó e tios faziam parte).

Com seu avô não havia regras, nenhuma pretensão de educar, ele era a própria irresponsabilidade, e tenho certeza que foi justamente essa psicologia infantil as avessas que me deixou mais responsável e mais consciente de uma série de assuntos e fatos que normalmente são omitidos das crianças criadas por famílias "normais".

E sabe, me preocupa "errar" na sua educação  justamente nesse ponto, me tornar uma mãe careta e muito certinha, e daí você fica um menino bobinho, superprotegido... na gravidez sua vó me dizia que de repente eu queria que o mundo e as pessoas ficassem perfeitos, só porque eu esperava uma criança.

É por isso que é bom eu anotar essas coisas, porque se por acaso eu ficar tentando te proteger do mundo (tudo bem, já faço isso, mas é porque você só tem dois meses), espero que meu pai se manifeste de alguma forma, e me lembre que ser doido é divertido e necessário, e que foi exatamente assim que aprendi a me cuidar e a ser quem eu sou hoje (uma pessoa ótima, háháhá).

Bom filho, espero que você tenha conseguido entender um pouco ou mesmo imaginar o seu avô, mas principalmente espero que entenda (eu ainda tenho dificuldade) que as pessoas são cheias de falhas, mas mesmo assim podemos aprender um monte justamente com essas imperfeições!

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