16 dezembro 2010

4 meses

Meu gorducho!
Mamãe está mais orgulhosa do que nunca, você engordou e cresceu acima da média, tá, essas médias e padrões são bobagens, o que quero dizer é que você está se recuperando e correndo atrás do prejuízo e da sombra de bebê prematuro... ai querendo ou não, por mais que eu saiba que está tudo ótimo mesmo você sendo menor e mais magrinho, é muito chato escutar coisas do tipo: "que lindo, nasceu agora?" e eu puta: "não, já tem três meses".
É meu filho, eu bem sei o motivo de tanto desenvolvimento, porque as mudanças não são só no seu peso e altura, mas envolvem um amadurecimento da mamãe aqui, que finalmente está numa fase de entrega e dedicação a você que, penso eu, vendo agora, eu não tive no começo... no começo eu (com vergonha, mas assumindo o meu erro), quase caio na besteira de querer te controlar, impor horários e regras, me sentir infeliz com suas acordadas noturnas, impressionada com seu jeito nervoso e seu gênio díficil... até manha eu achei que você já tinha... fora isso eu tive medo de te viciar em colo, te estragar, e tantas e tantas bobagens ditas por pessoas nada-a-vê, e que vitimam mães e bebês.
É Romeu, eu que me considerava uma pessoa inteligente e bem informada, fui também uma idiota com você, mas como diz sua tia Carol: eu, naquele momento, acreditava que estava fazendo o melhor.
Bom, o fato é que o início da relação mãe e bebê é sem dúvida um período díficil para ambos. A mãe muitas vezes não imagina as dificuldades que lhe aguardam, por mais que haja cursos e livros, há muita besteira legitimada por profissionais e por pessoas próximas. Para o bebê nem se fala, as dificuldades são imensas, mas facilmente amenizadas se este contar com uma mãe amorosa, dedicada e sobretudo livre de medos quanto a sua inteira doação nesse momento.
Ao mesmo tempo, os pais ficam perdidos também, porque por mais que aprendam a trocar fraldas e tenham paciência em colocar os pequenos para arrotar, nem sempre percebem que o seu papel nesse momento é principalmente dar apoio à mãe, se dedicar de forma extrema à mulher para que esta não se sinta sozinha e desamparada frente ao bebê, e assim, pai, mãe e filho formam um triângulo de afeto e ajuda mútua.
Nesse ponto, tenho que reconhecer o que o seu pai me dizia e eu, numa luta insana contra qualquer possibilidade de machismo, rechaçava: que tem coisas que só uma mãe pode fazer.
Eu não queria esse papel de protagonista, pensava que apesar da diferença: "ok, eu amamento", no resto, deveríamos dividir as "obrigações". E como em muitos momentos seu pai não conseguia, eu dizia se tratar de má vontade dele.
É meu filho, ser mãe não é fácil e casamento também não... mais complicado ainda é que o marido é o pai, e por mais que não devessemos misturar os papéis e motivos, tem hora que tudo escapa e quem paga o pato é você... sei disso, sei que já fiz e que provalmente o farei outras vezes.
Bom, e erros eu cometerei aos montes, se hoje, você com míseros 4 meses tenho a impressão de que essa não é a primeira mea culpa que faço, aliás, acho que pelo menos uma vez por dia, sinto culpa por alguma coisinha relacionada a você, logo não será a partir de agora, depois de enxergar tudo isso que te falei que tudo vai mudar porque a mamãe aqui está mais centrada e ligada na importância do afeto, sei que não mas...
Voltando ao princípio, tudo melhorou depois que eu melhorei, depois que relaxei, depois que perdi o medo de você só dormir mamando no peito - muitas vezes você dorme sozinho no carrinho, inclusive sem chupeta, mas tem hora que você capota no meu peito mesmo - perdi o medo de te colocar na cama a noite para mamar e continuar dormindo com você abraçadinho e coladinho - e você adora, mas também volta numa boa para o seu berço - perdi o medo de te fazer dormir no colo andando de um lado para o outro - porque entendi que tem momentos que você precisa disso e ponto final!
Perdi o medo de te mimar e de te deixar dependente de mim, daquele tipo de criança chata que só quer a mãe... em compensação tenho um bebê que é uma simpatia, todo feliz e sorridente, puro charme e gostosura!
E agora, por fim, as últimas fotinhos que comprovam a minha opinião suspeita!
sorrindo para o papai

Momento histórico, a primeia vez que acerta a pegada e corre com o brinquedo para a boca!

Simplesmente apaixonou por essa vaca, quando vi estava lambendo ela toda!

Segundo seu pai: você ouvindo um deep house!

29 novembro 2010

Vida Social

Romeu querido, nessa última semana tivemos grandes avanços nas nossas respectivas vidas sociais!
Tudo começou na quarta-feira, início do Festival de Cinema Brasileiro de Brasília, que além de ser um evento que a mamãe curte muito desde antes de se mudar para cá, tem uma importância singular na nossa história (foi lá, que há quase 3 anos atrás eu conheci seu pai), e é para a quadra do Festival (Cine Brasília) que nós viemos morar após o seu nascimento (na barriga!).
Logo esse é o primeiro ano que sou vizinha do Festival (tudo bem, há três anos atrás já morava bem próximo), mas enfim, agora o Festival acontece praticamente embaixo do nosso bloco!
E como você anda um anjinho (leia-se bebê previsível), que todo dia dorme mais ou menos 19 horas, após a shantala seguida de banho e remédio, e depois acorda só 23h para uma sessão mama/dorme e assim vai até as 4h da manhã, eu e seu pai combinamos que cada dia um poderia ir ao Festival enquanto o outro fica em casa com você.
E assim, depois de muuuito tempo quieta em casa, a mamãe se arrumou, marcou com as amigas e saiu a noite!!! (quase não gosto!)
E você se saiu melhor do que a encomenda, só acordando 1h da manhã! Com a mamãe já de volta na camisola prontinha para dar de mamar!
Como se não bastasse, seu pai e eu recebemos um convite do chefe do papai (que é chefe de cozinha), para uma festa com show, comidas e bebidas grátis (!!!), imperdível também, principalmente porque coincidiu com a vinda da prima Carol, que ficou com você para o papai e a mamãe saírem juntos para uma FESTA!!!
Você mais uma vez dormiu direitinho e se eu não contasse você nem ia saber, anjinho da mamãe!
Não satisfeita, e começando a usar um novo sling que você adora, domingo aproveitamos o dia e o início da noite na rua com você!
Primeiro uma ida na feira do Guará, um programa bem interessante que você nem pisca, com tantas cores, cheiros e barulhos, além de ser um sucesso de chapeuzinho!

com o papai e a mamãe comendo um pastel na feira

E depois a mamãe te levou para o seu primeiro filme (um curta), mas como já eram 18 horas, o bebê anjo dormiu, e só acordou após o filme, na hora da badalação! Deu sorrisinhos, distribuiu simpatia, foi para outros colos, tirou foto, e assim que se cansou, voltamos para nossa casa!

com a mamãe depois do curta


É filho, o melhor disso tudo é pensar que a nossa vida volta a se equilibrar, e o papai e a mamãe além de se divertirem muuuito com você, aos poucos vão conciliando seus programas, interesses e amigos, e ainda conseguindo te incluir em alguns destes, o que só é possível porque você é uma gracinha de bebê!

13 novembro 2010

Mudanças

Filho, há quanto tempo não escrevo.
Estou sempre querendo registrar as suas grandes mudanças após o fim do primeiro trimestre, mas não sei onde vão parar as horas do dia, quando vejo já está de noite, e nunca sobra tempo para nada além de você!
Estou convencida de que ser mãe é uma profissão, e quem me dera pudesse viver só desta, mas infelizmente uma hora volto a trabalhar e nem quero pensar em como vai ser os dias sem você no colo ou bem próximo de mim.
Enquanto isso não acontece, te conto um pouco como é a sua vida de bebê de 3 meses e uns dias:
Você acorda chorando, mas pára assim que consegue que eu ou seu pai realmente acordemos (é, porque fico tentando te tapear o máximo possível para que você durma), e aí pronto, basta ter alguém sentado na sua frente para que você começe a jogar seu charme irresístivel: sorrisos e mais sorrisos, seguidos de sons como ahhh, agui, ang e por aí vai... e quanto mais nós conversamos e cantamos, mais sorrisos você solta, é lindo filho, e nos dá uma alegria sem fim, te ver tão esperto e comunicativo.
Mas eu confesso que como é a mamãe que fica mais por sua conta durante a noite, normalmente eu abro mão da sua alegria matutina para que o papai fique com você nessa hora, e assim eu consigo mais um tempinho de sono. Vocês dois se divertem ouvindo Jazz, passeando na quadra, fazendo o café da manhã, e rindo sem parar um para o outro!
Na hora que você se cansa, já é hora de mamar. E assim os dias passam, com longas mamadas, brincadeiras e sonecas, até o fim do dia, em que eu faço shantala em você, e depois eu e seu pai te damos banho de balde, te arrumamos para a noite de sono, que é sempre imprevisível, as vezes você acorda muuuito, outras vezes só mama e dorme facilmente.
Agora eu peguei a mania de dormir com você, abraçadinho, é uma delícia... o problema é que você vai se acostumar e depois fica díficil mudar. Sei de crianças de 7, 8 anos que ainda dormem com a mãe e aí é complicado para a vida do casal... ai, enfim, agorinha mesmo te fiz dormir assim, você tão lindo, confortável no meu abraço... aí começei a paranóia pensando que posso estar "te estragando", mas também penso na importância do afeto, da segurança e auto estima... ai, deixemos isso para lá no momento... ser mãe não é fácil não, o mundo está cheio de receitas e histórias e parece que cada decisão desse tipo implica em consequências seríssimas para a sua educação que nem quero pensar nisso agora.
Vamos ao título, as mudanças são: você agora é de fato um bebê gordinho, cheio de dobrinhas (na verdade você é um bebê magro se comparado aos bebês realmente gordinhos, mas em vista do que era, você hoje é o nosso gorducho, de quase 5 Kg), buchechudo e papudo, ah, e o que é melhor, com pouquíssimo refluxo.
Atualmente o grande desafio tem sido coordenar a sua mãozinha (fechada), e nessa você passa um bom tempo olhando para qualquer objeto que pinduramos no seu carrinho e mechendo a mãozinha para tentar pegar o brinquedo.
A música também é um grande prazer na sua vidinha, que atualmente tem ouvido os seguintes discos: Mawaca, arca de noé e chorinho para crianças, além de jazz e música clássica, mas o que você mais gosta é quando o papai ou a mamãe cantam para você, principalmente músicas criadas na hora, com letras que infelizmente não registraremos já que somos grandes cantores de improviso.
A outra mudança: sua avó Flávia e o tio Rogério não são mais nossos vizinhos, eles se mudaram para Goiânia. Isso é uma pena porque desde que soube da gravidez, eu e seu pai tivemos que procurar um apartamento maior, e fiz questão que fosse próximo a casa da sua avó, e de fato moravamos bem perto, mas por razões justas eles tiveram que se mudar, agora temos que arrumar novas estratégias para que você usufrua dos dois...
E por fim hoje soube que uma amiga muito querida está grávida de novo, a tia Lú, que já é mãe da Cecília, fiquei muito feliz por ela! Além dela, tem também a tia Dani que vai te dar mais um primo de terceiro grau. No dia dez nasceu o Otto, filho do Colares e da Tati, e uns dias atrás você conheceu a Maitê, filha da Rebeca, que só é dois meses mais nova que você, e foi sua amiga desde a barriga! Eu fico feliz porque penso que todos serão seus amiguinhos daqui há muito pouco tempo!
Acho que resumidamente é só isso. Tenho que aproveitar para dormir até sua próxima mamada, seu corozinho!

14 outubro 2010

Algumas considerações

É meu filho, aqui vão algumas considerações que não saem da minha cabeça e que talvez seja importante registrar, tudo bem que o título não é bom, mas vamos ao que interessa.

Primeiro é sobre as certezas, por mais esclarecido que qualquer ser humano seja, há sempre algumas certezas (porque quanto mais esclarecido menos certezas devemos ter) que nutrimos sobre nós mesmos.

Eu sempre tive a certeza de que não queria virar uma super-mãe, uma mulher cujo o único assunto é a super estimação do próprio filho. Por isso sempre odiei depoimentos de mães que dizem: "um filho nos transforma", "eu não me sinto mais sozinha depois que tive filho", "a maternidade é uma dádiva", entre outras pérolas com o mesmo sentido.

Sempre pensei que queria ter filhos e tal, mas que independente de ser ou não ser mãe, eu nunca ia fazer disso a razão da minha existência,  até porque os filhos dessas mães correm sérios riscos de virarem pessoas insuportáveis.

Tá, posto de lado o discurso e toda a crença que sempre me acompanharam como as certezas de que "nunca serei", "nunca farei" e etc, hoje estou aqui, mãe, e aí? O que dizer agora? O que mudou afinal?

Bom, me recuso a repetir o bordão de que ser mãe é a melhor coisa do mundo, mas tudo bem, ser mãe faz a gente ver o mundo de forma diferente, de que forma? Na forma de "a mãe e o bebê". Logo, se estou vendo uma novela em que o vilão é tão vilão que maltrata a própria mãe, penso nele pequeno, do tamanho que você tem hoje, e em como um bebê que foi cuidado e amado pela mãe (já que a mãe do vilão é uma pessoa boa) pode crescer e ser uma pessoa má?

E por aí vai, qualquer fato ou pessoa eu reduzo para a relação mãe e filho, além disso, a sensibilidade para crianças de forma geral está totalmente alterada, é um maternalismo geral para todas as crianças do mundo, e logo uma dor sem fim porque o que há de mães e pais que maltratam, abandonam, usam, abusam dos filhos, eu não posso nem pensar... fora isso, há toda a pobreza, toda a miséria que vitimam mães e filhos, como a história da nova cuidadora do tio Rogério: 21 anos,  3 filhos de 1, 2 e 4 anos, foi abandonada pelo marido grávida, vive num casebre de 1 cômodo. Detalhe: a vaga de cuidadora requer que ela durma no trabalho, as crianças ficarão com uma vizinha de 17 anos durante toda a semana.

Ai ai ai, que mundo cão, que dor de pensar nesses três bêbes... essa menina não pode deixar essas crianças a semana toda... bom, a sua vó pensou a mesma coisa, mas o fato é que ela não consegue trabalho para ir e voltar todos os dias, a casa dela é longe e para ir e voltar ela gasta 10 reais de ônibus (é muito para pagar diariamente). A sua avó deu o trabalho e agora estou aqui matutando o que posso fazer por essas crianças.

Outra consideração: sempre (desde que cresci) detestei dia das crianças, dia das mães, dia dos pais, natal e qualquer forçação de barra do comércio, por isso decidi que você, no que depender de mim e do seu pai (porque suas avós e avô já te compraram presentes), não haverá esse papo de dia das crianças (e isso faz parte da luta para não ser uma super-mãe), nessa data separaremos seus brinquedos velhos para doarmos para crianças pobres.

A última consideração: sobre vocabulário infantilizado, não gosto, sempre pensei em evitar essa linguagem débil exagerada, e outra coisa ridícula: a mãe chamar o pai do bebê de pai, e vice versa... daí que isso muitas vezes escapa, tanto eu chamo seu pai de pai e ele me chama de mãe, quando estamos (babando) e falando frases como se fóssemos você... tá, isso é horrível e sempre nos repreendemos mutuamente quando está demais, mas dentro desse infantilês criamos o verbo: pepetar. Quer ver você pepetando? segue a foto logo abaixo.

É foda, quando vejo estou totalmente na sua linguagem, e viro para o seu pai: "pai, pega minha pepeta", de forma tão natural.

Bom, é por essas e outras que existe a expressão "pagar a língua", porque eu até me policio muito, mas quando vejo estou agindo e pensando de um jeito (mãe) que sempre achei que eu nunca faria!

05 outubro 2010

Primeira Febre

Ô tadinho... hoje você tomou vacinas cujo efeito colateral é uma febrezinha, e agora só dorme, tá todo molinho, mas o diferente não é nem isso, e sim a mamãe, cheia de tempo... desacostumei... não sei o que fazer com tanta folga!

Como seria...

Romeu,

As noites com você são sempre agitadas, cheias de pequenas sonecas, o que faz com que a mamãe tenha um milhão de sonhos e se lembre da maioria. ah, o melhor é que de um jeito ou de outro, você sempre está presente nesses sonhos!

Essa noite, além de sonhar que te colocava para dormir dentro da máquina de lavar, sonhei também com seu avô Roger, ou quem sabe o vô Neguim, ou vô Nego Roger, ou até mesmo o Vovô Pirara, sei lá como seria o jeito que você iria chamá-lo, é, porque se tem uma coisa que me chateia nessa vida são esses "como seria" se esse avô estivesse entre nós, uma coisa seu padrinho acertou: ele te chamaria de Raimundinho, nunca de Romeu.

Imagino como seria a partir de como ele foi com o Ian, que pôde curtí-lo por um ano, era um avô babão como normalmente são os avôs, no entanto era também muito perigoso deixá-los sozinhos! Como disse a Diana (sua avó torta), era preciso vigiar o meu pai vigiando o Ian! O mais legal era ver como existia uma paixão recíproca entre eles, sendo que até hoje, que o Ian tem dois anos, a gente pergunta como dorme o vovô e ele então ronca, imitando seu avô!

Os dois riam muito juntos, o seu vô perguntava para o Bastiãozinho (Ian) o que a vovó é? No que o neto respondia fazendo o sinal de doida e morrendo de rir!

Meu pai teve a sorte de saber o que é ter um neto, e foi um neto apaixonado, como eu tenho certeza que você seria também... mas mesmo assim, um vovô perigoso, que pegava o neto com um cigarro na boca, colocava em cima do cachorro (imundo), e que ao saber que ele já estava começando a sentar o deixou sentado e saiu de perto para desespero da mãe! É, sem dúvida eu ia ficar aflita, mas mesmo antes dele morrer e eu sequer engravidar, já falava com o seu pai que quando tivéssemos filho, íamos deixá-lo com meu pai, que é para ficar esperto!

É, porque minha infância sempre foi divertida mas bem arriscada, pois seu avô criava a gente desse jeito doido, nos levava para pescar mas eram viagens terríveis em que acampávamos em praias sem nenhum rancho, um sol de rachar, o seu avô bêbado assando um peixe sem nenhum tempero, assim como o arroz (ele não sentia cheiros e nem muito gosto por causa de um acidente de moto), e contra os mosquitos passávamos óleo de cozinha (só óleo, sem qualquer protetor solar).

Também me lembro de passeios de moto, em que eu ia no tanque da Ténéré, e seus tios atrás (é, sem capacete), lembro de viajar no Landau para a Bahia, e viver um mês sem ter que tomar banho, com conta na sorveteria do seu Laci, que depois foi cancelada tamanho o rombo que causamos, de visitar seu avô na prisão da Bahia e ganhar uma casinha toda feita de palito de picolé do colega de cela, voltar dessa viagem sem nenhuma roupa limpa e sem nenhum sapato, toda amarrotada no avião... lembro dele ver uma poça de lama e jogar a moto com todos nós a bordo... lembro da brincadeira de acertar latinhas com arma de verdade, e eu era tão pequena que tinha que ser segurada porque a pressão ao atirar é forte e eu poderia cair para trás se seu avô não ficasse atrás de mim... lembro de andar a cavalo com ele, até o dia em que ele me subiu primeiro e bateu na bunda da égua para que eu aprendesse a andar sozinha... lembro do dia em que ele encheu o saco das músicas que eu ouvia e jogou todas as minhas fitas no Rio, ah, e mesmo gostando muito do tal Rio, ele fazia questão de jogar as latinhas de cerveja na água gritando NATIVA (um grupo ecológico, que realizava campanhas de preservação do Rio Araguaia, do qual inclusive sua avó e tios faziam parte).

Com seu avô não havia regras, nenhuma pretensão de educar, ele era a própria irresponsabilidade, e tenho certeza que foi justamente essa psicologia infantil as avessas que me deixou mais responsável e mais consciente de uma série de assuntos e fatos que normalmente são omitidos das crianças criadas por famílias "normais".

E sabe, me preocupa "errar" na sua educação  justamente nesse ponto, me tornar uma mãe careta e muito certinha, e daí você fica um menino bobinho, superprotegido... na gravidez sua vó me dizia que de repente eu queria que o mundo e as pessoas ficassem perfeitos, só porque eu esperava uma criança.

É por isso que é bom eu anotar essas coisas, porque se por acaso eu ficar tentando te proteger do mundo (tudo bem, já faço isso, mas é porque você só tem dois meses), espero que meu pai se manifeste de alguma forma, e me lembre que ser doido é divertido e necessário, e que foi exatamente assim que aprendi a me cuidar e a ser quem eu sou hoje (uma pessoa ótima, háháhá).

Bom filho, espero que você tenha conseguido entender um pouco ou mesmo imaginar o seu avô, mas principalmente espero que entenda (eu ainda tenho dificuldade) que as pessoas são cheias de falhas, mas mesmo assim podemos aprender um monte justamente com essas imperfeições!

29 setembro 2010

Uma mãe cansada

Filho, você anda esperto que só, observa profundamente tudo que é colorido, vira o pescoço para ver quadros, árvores e adora estar no meio das conversas... ontem saímos eu, você e a tia Carol e pela janelinha do carrinho víamos o seu olhar para cima, super atento na nossa conversa, além disso começa a desenvolver outras linguagens além do choro estridente, e reclama falando "hell hell hell", posso dizer que essa é a sua primeira palavra, quem diria, meu filho é um bilingue mal humorado!

Sobre isso aliás, cada dia que passa te acho mais e mais parecido com o papai, não só a cara como o pé, o cabelo, a orelha, enfim não vejo nenhuma característica fisíca da mamãe em você, então para me consolar o seu pai diz que você tem o meu humor!

Bom, não sei, todo neném chora bravamente né? Não dá para saber... mas voltando para as suas evoluções, você agora tenta de forma muito descoordenada pegar objetos, se assusta com barulhos e mama até virar os olhinhos, e fica com uma carinha sacana enquanto meu peito lateja de dor!

Ah, e também espreguiça lindamente quando acorda, antes de abrir o berreiro!

É, mas nem tudo são flores... você é um bichinho que dá trabalho e não é chegado a dormidas longas, posso contar nos dedos as vezes que dormiu por quatro horas seguidas... eu não desisto, vou estudando/inventando técnicas para te fazer dormir por mais tempo, e você vai ficando cada vez mais resistente a elas.

Primeiro foi a chupeta, agora já fecha a boca com força para que eu não enfie na sua boca, tentando mais meia horinha de descanso as custas da ilusão de que está mamando! O secador de cabelos ligado (não diretamente em você) funcionou por um dia e meio, era ligar e você ir fechando os olhos mesmo sem querer, agora se eu ligo você solta o choro mais estridente e ofusca totalmente o barulho que te relaxava! A cadeira de balanço, essa parou de funcionar há pouco tempo, mas foi a que mais durou, agora posso ficar ali uma hora balançando com força ou suavemente, que você esperneia puto da vida.

E nessa labuta passamos dois dias com você acordando de hora em hora durante toda a madrugada, só dormiu mesmo de meia noite até as duas, depois acordava as 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11 sem sacanagem, foi desesperador, por fim eu tinha certeza que havia um problema muuuuito sério com você, uma vez que os bebês vão dormindo cada dia mais a medida que crescem, porque que o meu faz o movimento contrário?

Bom, em total desespero fui socorrida pela Tia Carol (mãe do Arthur) que veio com toda a calma e tranquilidade e te colocou no colo e te fez dormir tranquilamente (de quebra arrumou a mais nova maneira de fazê-lo dormir, andando bem devagarzinho, meio dançando com você bem confortável no colinho - funcionou a noite toda e durante todo o dia de hoje!), além disso a vovó Flávia me deu bronca dizendo que neném é assim mesmo, e quanto mais estressada eu fico pior é, tudo passa pelo leite, por fim o pediatra que também me tranquilizou e garantiu que o calor é o grande responsável...

Resultado: Você agora só usa fralda, a mamãe está no chá de camomila, papai tem que me manter calma, e para te fazer dormir fico dançando com você no colo pela casa! Você está outro bebê!
Agora mesmo você está ali no cercadinho, tranquilo olhando um elefantinho colorido enquanto eu escrevo, soltando de vez em quando o "hell hell hell", mas bem suavemente!

Fora isso, está finalmente ganhando peso e ficando realmente fofinho, cada dia mais lindo, apesar do refluxo... é, lendo o post anterior fiquei tirando onda e falando mal do pediatra, mas o fato é que você continuou com o refluxo mesmo sem tomar a vitamina (essa eu parei de dar!), e tem como grande aliado os tais remédios que o médico passou (e a louca fui eu né, de querer suspender o uso por conta própria).

Olha Romeu, você vai fazer dois meses daqui há alguns dias, e o que a mamãe mais tem aprendido nesse tempo é viver um dia de cada vez, pois você é bem imprevisível. Já tive certeza que ter filho era muito fácil (primeira semana), já achei que você estava com uma rotina estruturada, com horários certos (dois dias), que ia te fazer dormir a noite toda quando chegasse aos 3,1 Kg (menos de um dia), já chorei de desespero porque achei que você não gosta de dormir e só tira sonecas (dois dias) e atualmente desconfio, mas não quero cantar vitória antes do tempo, que você está finalmente se ajustando e dormindo mais facilmente e fazendo os tais ciclos de três horas (e isso tem dois dias!).

Será? Não custa torcer!

Te amo mesmo estando sonhando com uma noite inteira de sono, coiso lindo!

10 setembro 2010

Para dormir

Romeuzito!
Você deu um pouco de trabalho nos últimos dias, por isso que a mamãe nem consegue mais escrever... bom, na verdade eu e seu pai, como pais de primeríssima viagem, caímos na bobagem de ir em conversa de médico (ah, os alopatas) e começamos a te dar vitamina (ele tambem receitou o ferro, mas você rejeitou nas duas vezes que tentei), e depois você começou a vomitar, a dormir super pouco e a ficar super nervoso, com um choro irritado.
Passei os sintomas para o louco, ele então decidiu te passar remédios para úlcera, gastrite, e.t.c. eu e seu pai compramos muito a contra-gosto, decididos a te levar em um homeopata. Você tomou o remédio por um dia e aí finalmente caímos na real... que remédio o quê, você começou a vomitar por causa da vitamina, logo cortamos a vitamina, os remédios e o médico louco!
Você voltou a dormir como um bebê e está mais calmo, por isso agora tá decidido, é só peito, e um médico homeopata urgente!!!

05 setembro 2010

No seu esquema!

Filho,
A cada dia que passa gosto mais e mais de você, e a cada dia me sinto mais competente como mãe... parando para pensar nesse primeiro mês, e como no começo passamos por algumas dificuldades, tivemos noites díficeis, momentos dramáticos com amamentação e vários estranhamentos porque você estava mamando demais, dormindo pouco, querendo muito colo, entre outras "mudanças de comportamento" que me fizeram concluir que você era manhoso, que ia ficar mal acostumado e mimado por eu fazer tudo que você quer... imagine! Um rescém nascido que apenas estranha tantas mudanças, que toma um susto ao mexer as mãos e pernas com tanto espaço, que vai lá saber se é dia ou se é noite, e que obviamente se sente bem ao deitar a cabeça no meio dos peitos (enormes) da mãe, sentindo todo o aconchego e calor, ouvindo o coração bater!
A cada dia tenho mais paciência e disposição em te atender, em prestar atenção, em tentar me colocar no seu lugar, e principalmente em acordar de noite e fazer o que tem que fazer com boa vontade!
E você vai ficando mais bonito a cada dia, agora começa a ter mais carne nos bracinhos e pernas, porque no começo era só pele e osso, mas a mamãe te acha um charme, mesmo tão magrinho com a bundinha murcha, lindo!

03 setembro 2010

Carta que o seu pai escreveu para os amigos, sobre seu nascimento, acho que conta tudo de forma menos dramática

meus caros,

Romeu nasceu na segunda feira dia 02/08 'as 20:08h, com 36 semanas e 2.095g. um leonino com ascendente em peixes, intenso e emotivo!!

fiquei logo após o parto durante 2 horas de mão dadas com ele, na sala da pediatra, para vermos se sua respiração normalizava, já que ele nasceu de 36 semanas e seu pulmãozinho ainda não estava avisado que tinha que trabalhar, portanto ele respirava com dificuldade e ficava muito cansado. como a respiração não normalizou, desci com ele para a uti neonatal, aonde ele ficou respirando com a ajuda do cipap, e recebendo o melhor atendimento possível.

foram dias de muita luta, por parte dele, e ansiedade por nossa parte, todos os sentimentos possíveis misturados, e uma dedicacão total ao nosso filhinnho, por isso sumimos do mundo.

Tainá teve alta ontem, e ficamos visitando o Romeu 3 vezes por dia, acompanhando seu desenvolvimento.

Hoje foi o dia mais feliz de nossas vidas, mais até que o dia do parto, que foi marcado por surpresas e foi muito "surreal"

chegamos lá de manhã, e ele já estava respirando sozinho, sem dificuldade e com muita tranquilidade, dormindo um soninho "delícia"... a dieta de leite materno tinha começado na 3a feira, e era dado do banco de leite, e só aumentando nos ultimos dias... hoje de tarde, para nossa surpresa, chegamos lá e a médica disse que ele já podia ir para o peito da mãe!!! ficamos muito felizes, e Romeu mamou por 40 minutos seguidos, e depois caiu no soninho mais gostoso...

isso é normal para muita gente, mas para nós, cada passo foi uma vitória, e se tudo der certo, amanhã ele sai da uti e vai para o quartinho do hospital, tendo alta no sábado, se tudo correr como esperamos.

nossa vida mudou muito, e a chegada dele foi a coisa mais linda que vivemos, e espero poder compartilhar isso com vcs em breve...  assim que a temporada de visitas estiver aberta nós avisamos.

beijos do amigo,  Zé
(05/08/2010)

02 setembro 2010

Um mês

Filho, hoje você completa o seu primeiro mês de vida, passou bem rápido, mas mesmo assim é impossível imaginar a vida sem você. Tantas coisas aconteceram, tantas mudanças e emoções, que eu diria que vivemos um ano em um mês.
Você nasceu prematuro, com 36 semanas, isso porque a mamãe estava com pressão alta e pouco líquido, e a barriga, apesar de confortável e aconchegante para você, já não era um local seguro.
Se o nascimento já é um trauma, o seu foi uma pequena tragédia, como foi tirado antes do tempo, seu pulmão ainda não estava pronto para começar a respirar. Você saiu da barriga diretamente para as mãos de uma pediatra. Te vi passando rapidamente, vi apenas que tinha cabelo preto e que não chorou. O seu pai foi atrás, e acompanhou você todo o tempo. Foram duas horas de choro ininterrupto, que para ele doíam na alma, já que nada podia ser feito, nem mesmo te colocar no colo.
Eu tive algumas notícias enquanto me costuravam, depois me deixaram em um canto para que me recuperasse da anestesia, nesse meio tempo via outras mães, pais e bebês. Seu pai ficou com você, e você apertando os dedos dele, com muita força e desespero.
Você foi levado para a UTI, eu para o quarto, para a pior noite de toda a minha vida.
Você nasceu as 20:08, e eu só te encontrei as 10 horas do dia seguinte, passei a noite chorando e querendo te colocar no colo, ainda hoje sinto uma dor quando penso em você sozinho nesse começo.
Jamais me esquecerei do nosso primeiro encontro, ao entrar na UTI ouvi seu choro, quando cheguei perto você olhou para mim e ficou mais tranquilo, pude finalmente te ver, apesar da tôca e do cipap no nariz, sonda na boca, esparadrapos na bochecha.
No dia 04 você ainda estava usando o cipap e por isso não podia sair, ainda ficava muito cansado se tirassem o oxigênio, então conversei com você para que se lembrasse da nossa aula de yoga, falei para que inspirasse o ar devagar, sentindo ele circulando por todo o seu corpo, em seguida era só expirar. Você precisava conseguir isso para que pudéssemos ficar juntos, e o teste seria no outro dia de manhã.
No outro dia, ao chegar para visitá-lo as 10, chorei novamente ao ver que estava sem o aparelho, você tinha conseguido, e finalmente eu pude te pegar no colo, você mamou pela primeira vez, foram 40 minutos sugando todo o carinho, contato, leite, olhares que te faltaram no início.
No outro dia você teve alta da UTI e no dia 08 de agosto fomos finalmente os três para casa, no que seria o primeiro dia dos pais do seu pai, o melhor presente que poderíamos receber, você todinho para nós.
E desde então você mama por muito tempo, depois se cansa tanto que fica mole, bêbado de leite, e super confortável no meu colo, e quando vou te tirar para te colocar no berço, você chora de novo querendo mais leite (ou mais colo).
Não faz mal meu filho, eu também sinto um conforto enorme de te ter próximo, impossível ser de outra forma.